quarta-feira, 26 de junho de 2013

Os círculos viciosos da mobilidade urbana

Por Eduardo M.R.Lopes

Ano após ano, a situação no trânsito nas grandes cidades brasileiras vem tornando-se cada vez mais caótica, onde engarrafamentos em qualquer horário do dia, e não apenas no que já foi considerado “horário do rush” (a ida e a volta do trabalho), já fazem parte da rotina diária de milhões de brasileiros.

O fato novo é que nas últimas semanas, movidos pelo estopim que foi o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo, o povo brasileiro resolveu sair do estado de hibernação em que se encontrava e literalmente invadiu as ruas em várias cidades, tomando o espaço anteriormente ocupado por carros, ônibus e caminhões, para criarem um gigantesco e belíssimo “engarrafamento” de cidadãos dispostos a mostrar o seu descontentamento com os desmandos dos nossos governantes e clamar por mudanças urgentes.

No meio deste novo tipo de engarrafamento, muitos se deram conta de que a velocidade com que caminhavam pelas ruas e avenidas não era muito diferente da velocidade com que carros, ônibus e caminhões estariam circulando naquele mesmo horário se ali estivessem. Afinal de contas, ao longo dos últimos anos, nossos ilustríssimos governantes têm preferido priorizar incentivos fiscais para beneficiar o setor automotivo, e assim colocar ainda mais carros nas ruas, do que investir em infraestrutura para promover um transporte público de qualidade. Sinceramente, acreditar que o aumento da venda de veículos gerará para a economia um ganho maior do que investir na construção de novas linhas de metrô ou de corredores exclusivos de ônibus, por exemplo, não parece um racional muito sensato que visa beneficiar a população e o país como um todo no médio e longo prazo. O ato de abrir mão ou então postergar estes investimentos significa automaticamente hipotecar uma parcela importante do nosso desenvolvimento econômico e nos deixar tal e qual os ratinhos de laboratório, correndo ad eternum numa infinita esteira giratória, presos para todo sempre num grande círculo vicioso.

O custo desta miopia é alto e o preço a pagar através dos efeitos colaterais advindos dela reflete-se na perda gradual de produtividade dos brasileiros. A conta é muito simples: se a maioria da população demora em média bem mais de uma hora para se deslocar de casa para o trabalho, o rendimento durante o expediente já ficará comprometido pelo próprio estresse e o cansaço provocados pelo trânsito. Além disso, mais tempo nos engarrafamentos significa menos tempo estudando, o que dificultará uma melhora na qualificação e a consequente promoção ou recolocação do profissional no mercado de trabalho. Soma-se a isto o tempo maior que a população estará exposta à poluição (sem falar nos assaltos e arrastões) e acrescente então mais doenças, o que reforçará as estatísticas de absenteísmo (falta ao trabalho). E no final, além da diminuição na produtividade e o aumento do estresse, mais tempo no trânsito significa menos lazer, menos tempo com a família e, é claro, menos consumo no que as cidades têm de bom para oferecer. Ou seja, todos perdem, mas alguns poucos devem ganhar alguma coisa.

A moral da história é que não dá mais para o país continuar trabalhando na base do “oito ou oitenta”, privilegiando demasiadamente um setor em detrimento de outro que lhe é absolutamente complementar. A harmonia, sim, é possível e deve ser perseguida a todo custo, pois a diferença entre conseguir e não conseguir está justamente na mesma proporção em que um país pode ser considerado desenvolvido ou não. Mais do que nunca, o futuro só depende de nós.

Obs. Esta coluna é publicada quinzenalmente no portal Logweb.

Um comentário:

  1. Interessate notar como há tantos desdobramentos negativos tanto na vida do indivíduo, como na economia.

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