Por Eduardo M.R.Lopes
Ano após ano, a situação no trânsito nas
grandes cidades brasileiras vem tornando-se cada vez mais caótica, onde
engarrafamentos em qualquer horário do dia, e não apenas no que já foi
considerado “horário do rush” (a ida e a volta do trabalho), já fazem parte da
rotina diária de milhões de brasileiros.
O fato novo é que nas últimas semanas, movidos pelo
estopim que foi o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo, o
povo brasileiro resolveu sair do estado de hibernação em que se encontrava e
literalmente invadiu as ruas em várias cidades, tomando o espaço
anteriormente ocupado por carros, ônibus e caminhões, para criarem um
gigantesco e belíssimo “engarrafamento” de cidadãos dispostos a mostrar o seu
descontentamento com os desmandos dos nossos governantes e clamar por mudanças
urgentes.
No meio deste novo tipo de engarrafamento, muitos
se deram conta de que a velocidade com que caminhavam pelas ruas e avenidas não
era muito diferente da velocidade com que carros, ônibus e caminhões estariam
circulando naquele mesmo horário se ali estivessem. Afinal de contas, ao longo
dos últimos anos, nossos ilustríssimos governantes têm preferido priorizar
incentivos fiscais para beneficiar o setor automotivo, e assim colocar ainda
mais carros nas ruas, do que investir em infraestrutura para
promover um transporte público de qualidade. Sinceramente, acreditar que o
aumento da venda de veículos gerará para a economia um ganho maior do que
investir na construção de novas linhas de metrô ou de corredores exclusivos de
ônibus, por exemplo, não parece um racional muito sensato que visa beneficiar a
população e o país como um todo no médio e longo prazo. O ato de abrir mão ou
então postergar estes investimentos significa automaticamente hipotecar uma
parcela importante do nosso desenvolvimento econômico e nos deixar tal e qual os
ratinhos de laboratório, correndo ad eternum numa infinita esteira
giratória, presos para todo sempre num grande círculo vicioso.
O custo desta miopia é alto e o preço a pagar
através dos efeitos colaterais advindos dela reflete-se na perda gradual de
produtividade dos brasileiros. A conta é muito simples: se a maioria da
população demora em média bem mais de uma hora para se deslocar de casa para o trabalho,
o rendimento durante o expediente já ficará comprometido pelo próprio estresse
e o cansaço provocados pelo trânsito. Além disso, mais tempo nos engarrafamentos
significa menos tempo estudando, o que dificultará uma melhora na qualificação
e a consequente promoção ou recolocação do profissional no mercado de trabalho.
Soma-se a isto o tempo maior que a população estará exposta à poluição (sem
falar nos assaltos e arrastões) e acrescente então mais doenças, o que
reforçará as estatísticas de absenteísmo (falta ao trabalho). E no final, além
da diminuição na produtividade e o aumento do estresse, mais tempo no trânsito
significa menos lazer, menos tempo com a família e, é claro, menos consumo no
que as cidades têm de bom para oferecer. Ou seja, todos perdem, mas alguns
poucos devem ganhar alguma coisa.
A moral da história é que não dá mais para o país continuar
trabalhando na base do “oito ou oitenta”, privilegiando demasiadamente um setor
em detrimento de outro que lhe é absolutamente complementar. A harmonia, sim, é
possível e deve ser perseguida a todo custo, pois a diferença entre conseguir e
não conseguir está justamente na mesma proporção em que um país pode ser
considerado desenvolvido ou não. Mais do que nunca, o futuro só
depende de nós.
Obs. Esta coluna é publicada quinzenalmente no portal Logweb.
Interessate notar como há tantos desdobramentos negativos tanto na vida do indivíduo, como na economia.
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