segunda-feira, 3 de junho de 2013

Manual de sobrevivência, guia orienta conduta no trabalho

Por Morris Kachani


Usar óculos, de preferência com armação mais grossa, ajuda a fechar negócios? Executivos mais altos se dão melhor que os mais baixos? E o cavanhaque, será mesmo que causa má impressão?

Então nunca sente em um sofá mais baixo --aliás você terá mais status se sua cadeira for mais alta.

E não esqueça de esvaziar sua pasta de trabalho: pastas cheias sinalizam desorganização pessoal.

É claro que "A Linguagem Corporal no Trabalho" (editora Sextante) não consegue ultrapassar o rótulo de 'literatura de auto-ajuda'. Mas pelo menos, tem o discernimento de não filosofar: não há xamanismos, viagens místicas ou escaladas ao Everest.

Para encarar as 144 páginas deste volume escrito pela dupla responsável por outros sucessos como "Como conquistar as pessoas" --os seis títulos dos australianos Alan e Barbara Pease lançados por aqui já venderam nada menos que 3 milhões de exemplares--, é recomendável deixar de lado o senso crítico.

Também é bom esquecer o ideal da igualdade entre os sexos, como se verá mais adiante.

Não se sabe claramente a fonte de referência, e talvez isso não importe tanto: os autores partem da premissa de que 90% da opinião dos outros a seu respeito será formulada nos quatro minutos iniciais do primeiro encontro, e que 60 a 80% do impacto que você causará será não verbal.

É o pretexto para a formulação de um verdadeiro manual de sobrevivência em ambientes corporativos.

Neste território, a meritocracia não está em pauta. Aqui viceja o submundo das coisas não ditas.

Por exemplo, os autores afirmam que encarar seu interlocutor a um ângulo de 45 graus sinaliza um diálogo amistoso. Apoiar-se no batente da porta intimida. Mexer os pés embaixo da mesa indica insegurança. E cuidado na hora do aperto de mãos: se for frouxo, pode significar a ruína.

Ecos de Maquiavel também se fazem sentir: quanto mais perto do chefe você sentar em uma reunião, maior seu poder. Fazer o outro esperar é uma maneira eficaz de diminuir seu status. E quanto a aquele que cruza os braços sobre a mesa, é porque não está disposto a abrir mão de suas ideias.

HOMENS E MULHERES

Mas o livro vai além, e arrisca-se no sinuoso território sobre como homens e mulheres reagem diferentemente neste ambiente. "Quer você goste ou não, todo entrevistador dá uma olhadinha nas mulheres quando elas estão saindo da sala, mesmo que não as tenha achado atraentes de frente".

E mais, elas devem ficar atentas e tomar o cuidado de evitar olhar para o chão ou abaixar a cabeça com muita frequência --gestos que indicam submissão.

E os homens? "A maioria nem imagina que, quando saem da sala, as mulheres observam o estado da parte de trás de seus sapatos e tiram pontos pela má aparência".

"Linguagem Corporal" está impregnado de um moralismo à moda antiga. Ao invés de aprofundar este abismo, melhor seria se o livro inspirasse as pessoas a pensarem diferente, para além do "como me dar bem".

FIGURINO

Como diz o coreógrafo Ivaldo Bertazzo, este é um livro sobre cenário e figurino. "O texto não encoraja o poder de transformação que há em cada um de nós ao corrigir nossa postura e adquirir uma atitude expressiva adequada, por exemplo".

De toda forma, levado a sério ou tratado como piada, fato é que numa leitura enviesada o livro não deixa de revelar as mazelas do ambiente corporativo.

Um ambiente assustador, nas palavras de Bertazzo, porque recruta vigilância, atenção, competição. "É o animal com seu instinto todo aguçado, tentando mostrar que sua pelagem é melhor".

A propósito, de acordo com ele, os macacos entendem mais sobre hierarquia do que o homem.



AUTORES Allan e Barbara Pease
EDITORA Sextante
*QUANT*O R$ 19,90 (144 págs.)
TRADUÇÃO Andrea Holcberg
AVALIAÇÃO regular


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