domingo, 12 de maio de 2013

Os círculos viciosos e virtuosos na carreira

Por Eduardo M.R. Lopes

Na última coluna, falamos sobre os círculos viciosos do transporte rodoviário de cargas e o meio como as empresas poderiam migrar para um efetivo círculo virtuoso. E como as empresas são formadas por pessoas, são elas os verdadeiros agentes que promovem (ou deixam de promover) as mudanças necessárias para o desenvolvimento e o crescimento sustentável tanto das empresas onde trabalham como também das suas próprias carreiras.

A grande questão é: e quando são as pessoas que estão amarradas dentro dos círculos viciosos no desenvolvimento de suas carreiras? Se elas não conseguem migrar para o círculo virtuoso, como é que conseguirão ajudar estas empresas a migrarem também? O principal e decisivo passo, e o mais óbvio de todos, é que cada profissional seja sincero consigo mesmo e analise friamente se o trabalho que está desenvolvendo (independente da posição em que esteja atualmente) possui algum significado que seja especial e verdadeiro de acordo com os seus valores e crenças, onde destaco os três mais comuns: o prazer em realizar (tanto para ela e como para os beneficiários da atividade), o aprendizado (para que futuramente possa almejar trabalhos com maior grau de responsabilidade), e o desafio (para superar algo bastante complicado e mostrar que o profissional é capaz). Quando nenhum destes três despontar em primeiro lugar, inevitavelmente surgirá com toda a força a questão financeira, e será justamente neste instante que o profissional perceberá que já está dentro de um perigoso círculo vicioso. Afinal, se ele não visualiza nenhum significado no seu trabalho e acha que deveria ganhar mais porque tem que ganhar mais, o caminho natural será começar a olhar o chefe com cara feia e falar mal dele para todo mundo, gerando assim uma antipatia e infelicidade no profissional cada vez que os seus desejos (que nem sempre dependem da boa vontade do chefe) não sejam plenamente atendidos. Como ele está infeliz e a “culpa é do chefe”, passará a ir de má vontade para o trabalho e começará a externar esta sua negatividade (contra o trabalho, contra o chefe e contra a empresa) para os demais colegas, ajudando a criar um ambiente não muito saudável (principalmente para ele, pessoalmente falando). Neste ambiente ruim, ele se colocará na posição de vítima, e todos os demais colegas, que por alguma razão falarem bem da empresa ou dos seus chefes, se tornarão automaticamente seus inimigos. Ele estará cada vez menos disposto a ajudá-los nos projetos que sejam desenvolvidos em conjunto, pois de acordo com a sua lógica irracional o sucesso dos demais será a razão para que ele seja sempre “prejudicado”. De uma forma quase matemática, como o seu trabalho passou a ser uma verdadeira tortura, a sua saúde começará a ficar prejudicada, o nível da qualidade dos seus entregáveis começará a deixar a desejar, e aí o seu chefe começará a pegar cada vez mais no seu pé com razão, o que o deixará ainda mais estressado. Além disso, qualquer elogio ou promoção dos colegas aumentará ainda mais o seu sentimento de “vítima”, fazendo com que passe a odiar e a contribuir cada vez menos com os colegas, o que fará com que a qualidade dos seus entregáveis continue caindo, o chefe pegue ainda mais no seu pé e a sua insatisfação com a empresa, com o chefe e com os colegas aumente cada vez mais rápido. E aí não haverá muita escolha: ou ele será convidado a sair ou sairá antes de receber o convite, mas o pior de tudo é que se não houver uma mudança drástica na atitude, na próxima empresa ele continuará agindo da mesma forma e o final será bem parecido.

Quanto ao dinheiro, não é que ele não seja importante, muito pelo contrário, pois todos temos (ou teremos) uma família para criar e desejos materiais (grandes ou pequenos) a serem satisfeitos, mas a grande questão é que quando ele não estiver mais atrelado ao prazer, ao aprendizado ou ao desafio, e passar a ser a força-motriz da carreira, invariavelmente a aposentadoria chegará e o profissional perceberá o quão vazia foi a sua experiência profissional e quão infeliz foi desperdiçar tanto tempo fazendo várias coisas em tantas empresas que nunca lhe trouxeram felicidade alguma.

Desta forma, quanto mais rápida e sincera for esta autoanálise, e a consequente descoberta do que realmente lhe motiva e lhe dá satisfação, maiores são as chances de achar o verdadeiro caminho que lhe abram as portas para a verdadeira realização pessoal e profissional. E aí a empresa, os colegas, a família e própria saúde agradecerão imensamente.

Obs. Também disponível no portal Logweb neste link

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