Por Eduardo M.R. Lopes
No transporte rodoviário de cargas há
uma premissa universal que diz que “caminhão parado no pátio é prejuízo”; seja
porque não há mercadorias para serem transportadas (talvez porque a frota
esteja mal dimensionada, a atividade econômica esteja em baixa, etc.) ou porque
ele simplesmente está impossibilitando momentaneamente de fazê-lo (talvez
porque esteja em manutenção, etc.).
Desta forma, a principal preocupação
dos gestores de frota é justamente fazer com que os caminhões literalmente não
parem, pois a bem grosso modo isto significa que a frota está bem dimensionada
e que a transportadora está exercendo a sua atividade a pleno vapor, o que
resultará no final do mês em resultados positivos e no crescimento do negócio.
Será mesmo?
Se formos analisar apenas o que é
feito com os caminhões, que ao lado dos motoristas são os bens mais preciosos
das transportadoras, veremos que nem sempre o fato de os termos todos na rua o
tempo todo significa eficiência operacional e dinheiro no bolso, pois a
transportadora pode ter entrado no chamado “círculo vicioso da ineficiência” sem
ter percebido. A lógica é simples: como a infraestrutura rodoviária no Brasil e
o nível de qualificação dos motoristas ainda são muito baixos, o uso intensivo
dos caminhões acabará gerando um desgaste excessivo nas peças, que por tabela
necessitarão de um maior tempo para troca/reparo, o que diminuirá a vida útil
do veículo e reduzirá o seu valor de revenda. Ou seja, o fato isolado dos
caminhões rodarem vinte e quatro horas por dia carregados não quer dizer, em
absoluto, que o somatório destas entregas no final do mês gerará lucro para as
transportadoras – muito pelo contrário. Até mesmo porque há outro círculo
vicioso importante, que é o do próprio mercado do transporte rodoviário de
cargas em si, onde independente da otimização da frota e da atividade econômica
do país (que também vive de ciclos), como há poucas barreiras de entrada neste
setor, há um aumento natural e quase irracional da oferta de serviços de
transporte (seja através de frota própria ou através da frota de autônomos),
forçando assim a diminuição dos valores dos fretes. Com menos dinheiro no bolso
e a necessidade de não deixar os caminhões parados, o nível de manutenção acaba
sendo inadequado ou simplesmente postergado, o nível de renovação acaba sendo
baixo, os motoristas acabam fazendo jornadas extras, os caminhões andam com
sobrepeso, aumentando assim o risco de acidente de estradas, gerando perdas
tanto em vidas para a sociedade como também em mercadorias para os contratantes
destes serviços de transportes. E uma vez havendo continuamente a intersecção
destes dois ciclos, o final da história invariavelmente será sempre o mesmo: a
“morte súbita” (ou quase) das transportadoras, independente delas andarem com
os seus caminhões sempre carregados ou não (o que agrava ainda mais a
situação).
E há solução para sairmos destes
círculos viciosos e entrarmos num círculo virtuoso genuíno? Sim, como já
comentamos de certa forma na coluna “A gestão comportamental e os custos
invisíveis”, a partir do momento em que as transportadoras começarem
efetivamente a utilizarem ferramentas que as permitam fazerem a gestão do
comportamento dos motoristas ao volante e aliarem isto às boas ferramentas para
a gestão operacional (além de investirem em capacitação, tecnologia e
terceirização), este círculo se inverterá, pois os motoristas passarão a
dirigir com mais segurança, reduzindo assim os custos por km rodado, aumentando
a produtividade e a vida útil dos caminhões, e gerando maior competitividade para
as transportadoras não só se manterem, como principalmente prosperarem neste
mercado.
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