terça-feira, 26 de março de 2013

A gestão comportamental e os custos invisíveis

Minha última coluna no portal Logweb:

Por Eduardo Lopes


O cenário para o transporte rodoviário de cargas no Brasil é positivo e assim deverá continuar por vários anos em virtude dos baixos investimentos feitos pelo governo de forma a facilitar o desenvolvimento e o crescimento dos outros modais, que são até mais econômicos e eficientes dentro da cadeia logística, mas que dificilmente o tirará da posição de principal modal dentro da matriz de transportes a curto e médio prazo.

Se por um lado isto é um dado positivo para todos os que trabalham direta ou indiretamente com o transporte rodoviário de cargas, por outro lado os desafios são gigantescos para manter-se competitivo e eficiente neste mercado que segue em crescente profissionalização, pois a infraestrutura para transitar é deficiente, a insegurança nas rodovias é alta, o preço dos fretes é baixo, a qualificação dos motoristas é baixa, a carência de mão de obra é alta, é crescente, a restrição de circulação dos veículos de cargas nos chamados trechos urbanos das grandes cidades e a fiscalização ainda é inadequada. Desta forma, um controle apurado dos custos torna-se fator crítico de sobrevivência, e as transportadoras estão investindo cada vez mais em ações para controlar o consumo do combustível e a manutenção da frota, que são os seus maiores custos “visíveis”, porém, ainda parece tímida a atuação em cima dos outros custos chamados “invisíveis”, que estão embutidos na operação e que influenciam diretamente no consumo e na manutenção dos veículos da frota. Isto porque, por mais que a frota seja renovada no menor espaço de tempo possível e que a empresa possua o mais moderno sistema de gestão de abastecimentos e manutenção disponível no mercado, ainda assim, se ela não possuir mecanismos que lhe ajudem a gerenciar de forma eficaz o comportamento dos motoristas no exercício da sua função, pois são eles que de fato estão à frente de caminhões que muitas vezes custam algumas centenas de milhares de reais, muito do esforço realizado para fechar uma torneira acabará escorrendo por um cano furado que ela nunca imaginou que pudesse existir. A forma como o motorista dirige o veículo está diretamente relacionada à vida útil do mesmo e, dependendo do aspecto psicológico e do preparo de cada um que estará ao volante, a tendência com que este veículo faça mais freadas/acelerações bruscas ou permaneça com o motor ligado por mais tempo durante o período de ociosidade, por exemplo, tenderá a aumentar bastante, acarretando assim um aumento no consumo e na manutenção, além de uma queda na produtividade.

Se nas grandes transportadoras já vemos alguns avanços concretos neste sentido, nas médias e pequenas ainda há um grande caminho a ser percorrido. Entretanto, independente do tamanho da empresa, quando ela começa a fazer de fato uma gestão comportamental de sua frota, com indicadores claros e ferramentas adequadas para medir e controlar a forma como são conduzidos todos os seus veículos, indo além da capacitação e da premiação dos motoristas, passa a existir uma relação direta de ganha-ganha com todos os envolvidos na cadeia, pois não só ela ganhará através da melhora na performance, na vida útil e na disponibilidade dos seus veículos com a redução dos custos no consumo e na manutenção, como a sociedade como um todo também ganhará com a redução na quantidade de acidentes, seja por imperícia ou imprudência, que ceifam a vida de milhares de pessoas todos os anos nas rodovias brasileiras.


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