Os principais lançamentos da semana e a resenha de um livro em destaque.
CRÍTICA / DESENVOLVIMENTO
Livro traz visão pragmática dos tecnocratas chineses
MARTIN WOLF
DO “FINANCIAL TIMES”
DO “FINANCIAL TIMES”
Justin Lin é um exemplo de um fenômeno relativamente novo: um acadêmico chinês autoconfiante e interessado na formação de políticas mundiais.
Ele é economista-chefe e vice-presidente sênior do Banco Mundial. Fez seu doutorado na Universidade de Chicago, mas é um estudioso caracteristicamente chinês: profissional, patriótico, mas, acima de tudo, pragmático.
O livro "Demystifying the Chinese Economy" é uma tradução de palestras dele na Universidade de Pequim, e traz sua visão sobre a ascensão da China.
Concordemos ou não, precisamos entender como pensa um homem como Lin. O que o livro nos diz, portanto?
Primeiro, o desempenho da China tem sido espantoso. "O crescimento anual médio é de 9,9% e o crescimento anual médio em seu comércio internacional é de 16,3%."
Segundo, seu crescimento também beneficiou o mundo: "o forte crescimento da China durante a crise foi a mais importante força propulsora para a economia mundial."
E o livro tem mais a revelar. Uma discussão intrigante é sobre o motivo pelo qual a China tenha ficado para trás do ocidente no século 19.
Lin diz que o Ocidente conquistou os avanços do método científico e que, na China, os intelectuais estavam limitados devido aos rigores de exames do serviço civil.
Em termos de políticas públicas, ele traça uma distinção entre as estratégias de desenvolvimento que "desafiam as vantagens comparativas" ou e as que as "acompanham". O primeiro grupo, argumenta, é o que caracterizou a maior parte dos países em desenvolvimento.
Os resultados incluem empresas inviáveis, grandes subsídios, distorções nas finanças, corrupção generalizada e crescimento lento.
Dessa perspectiva, a base do sucesso chinês está nas autoridades econômicas terem desenvolvido a economia na direção em que ela desfruta de maiores vantagens comparativas dinâmicas.
Mas o autor não desconsidera o muito que ainda resta por fazer. Está preocupado com a crescente desigualdade, por exemplo. Diz que uma ampliação maior na disparidade entre a renda urbana e a rural seria explosiva. Mas não defende a redistribuição de renda. Acredita que novas melhoras nos mecanismos de mercado se provarão efetivas.
Uma política que enfatiza é o desenvolvimento de pequenos e médios bancos, para apoiar pequenas e médias empresas. Também dedica atenção aos "três excessivos" -investimento, crédito e superavit comerciais.
Está muito claro que a economia chinesa passa de fato por desequilíbrios. O livro de Lin não é a obra definitiva sobre o desenvolvimento chinês. Muitos tópicos foram desconsiderados, além da política, como seria de esperar.
Mesmo assim, é perceptivo e informativo. Acima de tudo, resulta de uma posição intelectual que tem se tornado deprimentemente rara: o professor acredita firmemente nos poderes benéficos das forças de mercado.
Mas também está ciente da necessidade de uma abordagem política pragmática: o mundo não está nos livros didáticos. Suspeito que essa seja a atitude que o planeta deva esperar dos tecnocratas chineses que exercerão cada vez mais influência nas próximas décadas.
Se for esse o caso, deveríamos celebrar: poderíamos nos sair muito pior.
(Tradução de PAULO MIGLIACCI)
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