Enquanto no Brasil mais de 600 mil novos caminhões foram para a estrada entre  janeiro de 2007 e agosto de 2011, apenas 138.332 CNHs de caminhoneiros e  carreteiros foram emitidas no mesmo período
Em 2006, a capa da edição 117 da Carga Pesada trazia a seguinte manchete:  “Procuram-se bons motoristas”. Naquela época, já se falava do grave problema da  escassez de mão de obra no setor. Diretores de transportadoras diziam que  chegavam a ter 15% dos caminhões parados por falta de empregados.
Com o grande aumento da frota nos últimos anos, pode-se ter certeza de que o  problema se agravou. Dizer quanto é que é o problema. Não se sabe sequer quantos  motoristas no transporte de cargas existem no Brasil. As principais entidades  patronais (NCT&Logística e CNT) não arriscam um palpite. Já a Confederação  Nacional dos Trabalhadores em Transporte (CNTT) estima haver dois milhões de  funcionários com carteira assinada no segmento de carga, mas isso não quer dizer  só motoristas. Na preparação desta reportagem, a Carga Pesada se esforçou para  jogar alguma luz nesse assunto.
O primeiro indício de que a escassez de mão de obra cresceu está no site da  Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Ali se  descobre que, desde 2007, a cada ano o número de caminhões novos que entraram no  mercado brasileiro aumentou – com exceção do registrado em 2009, ano seguinte à  crise financeira internacional. Hoje, são fabricados no Brasil 60% mais  caminhões por ano do que em 2006.
O portal do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) também mostra o  crescimento da frota. Em janeiro de 2007, havia 1.773.606 caminhões e 281.364  caminhões tratores, totalizando 2.054.970. Em agosto de 2011, os números  passaram a 2.230.647 e 443.044. Somando as duas categorias, são 2.673.691  veículos, 618.721 a mais que em 2007.
Ao mesmo tempo, o próprio Denatran informa que o número de emissões de  Carteira Nacional de Habilitação (CNH) nas categorias C (caminhões) e E  (carretas) foi muito mais tímido. De dezembro de 2006 a agosto de 2011, os  Detrans de todo o País entregaram 58.245 novas carteiras C e 80.087 novas  carteiras E, totalizando 138.332 CNHs. Em dezembro de 2006, havia, no total,  2.583.864 carteiras C e E. Em agosto de 2011, o número era de 2.722.196 –  crescimento de 5%. É bom lembrar que parte dos motoristas que obtêm a C dirigem  caminhonetes.
É razoável pensar que, de 2006 para cá, uma certa quantidade de caminhões  deixou de circular. Mas, sem que exista algum programa de sucateamento em curso  no País, certamente esse número é muito menor que o de 600 mil caminhões  novos.
E o que foi feito nesses anos todos para enfrentar o problema da falta de  motoristas? Pouca coisa. Somente agora, neste semestre, a CNT resolveu se mexer  e lançou o Programa de Formação de Motoristas, por meio do Sest/Senat: um curso  gratuito para quem possui CNH C, E ou D (no caso de transporte de  passageiros).
É claro que não é só o setor de transporte de carga que enfrenta problema de  mão de obra capacitada no Brasil. Mas também não se pode negar que a profissão  de caminhoneiro tem ficado menos atrativa. Os salários em torno de R$ 2 mil  podem parecer interessantes porque não se exige alto grau de instrução, mas ter  de enfrentar 16 horas diárias no volante, ficar semanas sem voltar para casa,  dormir e comer mal e correr o risco de acidentes e assaltos não é condição que  qualquer um aceita.
Além disso, muitos profissionais têm dificuldade em aprender a lidar com  tecnologias cada vez mais avançadas nos caminhões e nos rastreadores. Tudo  somado, conclui-se que não bastam cursos para formar novos motoristas. É preciso  valorizar mais o profissional. O Estatuto do Motorista pode ser um começo.

Fonte: Nelson Bortolin para a Revista Carga Pesada

 
 
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