segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Crescimento perde força em rodovias


A queda do crescimento de tráfego nas estradas chamou a atenção nos balanços trimestrais dos três maiores grupos do setor - CCR, OHL Brasil e EcoRodovias. De julho a setembro, o fluxo foi de 8% a 12% maior que no mesmo período do ano passado. Bem abaixo do quarto trimestre de 2010, quando o índice variava entre 20% e 33%.

Corrobora a tendência de esfriamento no tráfego das concessionárias o Índice ABCR, elaborado mensalmente pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) e pela Tendências Consultoria. Nas rodovias pedagiadas, a movimentação de veículos pesados (como caminhões) vem caindo há três meses seguidos. Esse tipo de veículo é responsável por gerar a maior parte das receitas das companhias. Desde junho, o fluxo desse segmento caiu 1,14% na série dessazonalizada.

Para Juan Jensen, economista da Tendências, a queda tem dois motivos. O primeiro - cujos efeitos eram, em parte, esperados - foram as medidas elaboradas pelo governo federal para impedir um crescimento demasiadamente acentuado da atividade econômica. Exemplo disso foram a medida de contenção fiscal de R$ 50 bilhões anunciada no início do ano e o aumento dos juros por parte do Banco Central (o efeito real de alteração nos juros, segundo Jensen, começa a ter efeito entre três e seis meses).

O desaquecimento nas estradas, no entanto, tem sido mais intenso que o esperado - devido à crise mundial, que tem segurado o crescimento nas indústrias. Segundo ele, impedem uma queda ainda mais acentuada o consumo interno e o agronegócio. "A demanda por produtos agrícolas continua forte no mundo, estimulando a produção desses bens", diz.

Já a movimentação de leves, que constitui a menor parte do faturamento das empresas, teve alta depois de três meses seguidos de queda, mas deve voltar a cair na próxima divulgação. "Os leves estão muito ligados ao movimento de renda e emprego, que está desacelerando, mas ainda conta com uma taxa de desemprego em patamares historicamente muito baixos e categorias conseguindo reajustes expressivos nos salários".

O fluxo nas estradas está diretamente ligado à geração de receitas das concessionárias, já que a arrecadação com pedágio representa pelo menos 70% da receita bruta das empresas (o restante vem de outras fontes, como a receita de construção e a assessória - oriunda, por exemplo, de painéis de publicidade).

Dentre os três principais grupos de concessões de estradas, EcoRodovias foi o que mais viu o crescimento perder fôlego. No quarto trimestre de 2010, foi registrado um fluxo 33% superior ao do mesmo período do ano anterior. No trimestre seguinte, o número caiu para praticamente um terço. No terceiro trimestre, o crescimento foi de apenas 8,1% na mesma comparação.

A desaceleração também é perceptível nas rodovias da CCR. "Estamos vendo um desaquecimento do tráfego mês a mês, devido à desaceleração da atividade econômica", diz Arthur Piotto, diretor de relações com os investidores da CCR.

Para o quarto trimestre, diz Piotto, os números devem continuar numa curva decrescente - embora o número absoluto de veículos ainda deva ficar superior ao do ano passado. "Não acreditamos numa desaceleração tão rápida da economia até o fim do ano a ponto de fazer com que a variação desse item de outubro a dezembro seja negativa em relação a 2010".

Na OHL Brasil, assim como na CCR, a tendência de variação do tráfego é acompanhar o crescimento do país (a EcoRodovias foi a única das três que não quis comentar os dados de tráfego). Jensen, da Tendências, acredita que os números se mantenham estáveis, ainda com leve tendência de crescimento, até o fim do ano (em comparação a 2010). "Isso se considerarmos que a crise mundial, principalmente na Europa, não se agrave em patamares muito superiores aos atuais", salienta. A variação tende a se manter praticamente estável também em 2012, diz ele.

Caso a tendência de queda continue, principalmente em relação aos pesados, 2012 será um ano de pouco crescimento de receitas para as empresas, o que pode influenciar o grau de endividamento dependendo dos projetos assumidos. Além da concessão da BR-101, com edital já publicado, as três têm pela frente o leilão de aeroportos do governo federal. Os investimentos necessários estão orçados entre R$ 3,5 bilhões e R$ 11,4 bilhões. Hoje, a alavancagem (medida pela dívida líquida sobre Ebitda) da CCR está em 2,3; a da OHL, em 1,6; e a da EcoRodovias, em 1. Para grande parte dos especialistas, o limite máximo considerado como saudável para o setor é 3.

Fonte: Valor Econômico

Nenhum comentário:

Postar um comentário