| Segundo a Central de Serviços e  Proteção ao Seguro, da CNSeg (Confederação Nacional das Empresas de Seguros), no  ano de 2009 foram pagos R$ 10 bilhões em valores de sinistros na carteira de  automóvel. Desses, R$ 1,2 bilhão foram relacionados a sinistros suspeitos de  fraude. Apesar de ser tratada com certa reserva por parte das companhias,  que hesitam em apresentar dados que estimulem mais ocorrências, a fraude é um  mal crônico sofrido pelo mercado segurador, com consequências que vão muito além  do prejuízo das companhias. O pagamento de sinistros indevidos entra nos valores  estatísticos das seguradoras e é repassado para a conta do segurado, com um  aumento nos custos de prêmio e franquia. Ou seja, a seguradora sofre com a  redução dos ganhos, mas o consumidor também acaba pagando a conta da  fraude. A boa notícia é que o mercado tem se mexido para diminuir o  problema. O trabalho de identificação desses sinistros duvidosos vem sendo  aprimorado a cada ano. Isso engloba a melhoria dos processos de vistoria prévia,  da capacitação dos analistas e vistoriadores e o avanço tecnológico (sistemas de  orçamento eletrônico, máquinas digitais etc.). Todo esse ganho se transforma  numa melhoria geral da velocidade da informação – que é um forte recurso contra  tentativas de fraude. Perícia e investigação Na luta para  combater o “conto do vigário”, as companhias contam com os serviços de  profissionais especializados no assunto. É o caso das empresas que atuam com  perícia de sinistros duvidosos. Seu objetivo é levantar elementos com que a  seguradora possa se defender, na esfera judicial, comprovando que está sendo  vítima de uma ação fraudadora. Essas empresas trabalham para minimizar o  risco de uma inversão de responsabilidade pelo acidente em decorrência de  acusações infundadas. A empresa de perícia envia ao local do sinistro um  especialista para analisar todos os elementos que indiquem a verdadeira causa do  sinistro, documentando suas descobertas com relatórios, fotografias e também  coletando informações de testemunhas. Uma análise das vítimas pode indicar, por  exemplo, se estavam portando capacetes, no caso de um acidente de moto, ou cinto  de segurança, no caso de um acidente de automóvel. Mas nem sempre o  mercado colabora para que esta análise seja feita com a rapidez e eficiência  necessárias. É o que aponta Roberto Minori, consultor de risco corporativo.  Minori faz investigação de sinistros duvidosos e monta projetos de segurança  especificamente para a prevenção à fraude. “O mercado tem de trabalhar de forma  preventiva”, aponta o consultor. “Deveria haver uma central de monitoramento  para dar suporte às companhias, fazendo um acompanhamento preventivo dos grupos  organizados. A identificação de suspeitos recorrentes auxiliaria muito a ganhar  tempo para evitar uma fraude. E, nesse processo, você está sempre lutando contra  o relógio.” Minori lembra que, dependendo do volume envolvido, a identificação  de uma única fraude em tempo hábil é capaz de compensar o investimento de um ano  inteiro em uma central de monitoramento. Para ele, as companhias também  deveriam dar mais recursos para o trabalho de investigação. Em função do sigilo  de que o mercado se cerca quando o assunto é fraude, as informações não chegam  da forma mais adequada a quem precisa analisar o sinistro. “O investigador  trabalha sem o tempo necessário, sem recursos e sem informações. Como a  companhia depende de um processo muito rápido, já que sofre pressão para o  pagamento do sinistro, ela não dá condições adequadas para o trabalho do  investigador. O resultado é que acaba pagando duas vezes: pela investigação e  pela fraude.” Proteção ao seguro Desde 2003, a Central de  Serviços de Proteção ao Seguro tem coletado e compilado informações sobre  fraudes, além de realizar parcerias e outras ações para combate esse crime. Isso  inclui um acordo com o Disque-Denúncia e a centralização de denúncias criminais,  para quando a situação dá a entender que há uma quadrilha agindo. Em 2009, o  serviço ajudou o mercado de seguros a evitar o pagamento de R$ 120 milhões que  iriam para as mãos de fraudadores. Além do dinheiro, é importante destacar o  efeito indireto desse resultado, que é o desestímulo à prática da fraude – já  que os fraudadores, de uma forma geral, começam a ter a percepção de que podem  ser descobertos e punidos. Mas ainda há muito a fazer, como revela Renato  Pita, superintendente da central: “O mercado segurador pagou, em 2009, R$ 1,2  bilhão para sinistros suspeitos de fraudes. Há índices que apontam para uma  redução da fraude nos últimos anos, mas é impossível dizer com certeza que está  diminuindo, porque a parte que não é identificada ou comprovada é muito grande.  Só conhecemos a ponta do iceberg, e isso pouco significa. Quando parece que há  menos fraude, pode ser que, na verdade, ela tenha aumentado, mas a nossa  eficiência em encontrá-la tenha diminuído. E vale o inverso também. Quando  parece que a fraude está aumentando, pode ser que o número tenha se mantido, ou  até diminuído, mas a nossa eficiência em descobrir fraudes tenha  melhorado.” As mais comuns Ao longo dos últimos dez anos,  há registro de inúmeros sinistros suspeitos que foram comprovados como  irregularidades graças ao trabalho dos especialistas em perícias. Dentre as  principais reclamações infundadas, é possível destacar as seguintes: • O  segurado assume a responsabilidade por um sinistro causado por outra pessoa, que  não tem seguro. Fica negociado que o verdadeiro culpado pague ao segurado o  valor da sua franquia, para que ele assuma a culpa. • Num engavetamento,  o segurado, sendo o último da fila, assume a culpa não só pelo primeiro impacto,  mas pela projeção junto aos demais veículos. Há casos em que a colisão já havia  acontecido entre os veículos à sua frente. O segurado então recebe um dinheiro  dos outros envolvidos e faz com que a seguradora arque com a totalidade dos  danos de todos. • Danos apresentados em motores e câmbio, na maioria das  vezes, são relacionados à falta de manutenção preventiva. Mas o segurado alega que o problema é  resultado do sinistro, para fazer com que a seguradora pague pela correção do  dano. • Quando um veículo novo sofre uma colisão, o segurado – que não  quer ficar com um veículo batido – agrava propositalmente os danos sofridos,  estendendo-os a itens que não haviam sido afetados no sinistro, com a intenção  de caracterizar uma perda total e, assim, conseguir dinheiro para um carro  novo. Os casos acima são os mais comuns, mas também há casos de segurados  que incendeiam o veículo, visando a uma perda total, ou que empurram o carro em  abismos, ou ainda que provocam batidas propositais, entre outros  exemplos. É crime Pouca gente, deixando de fora os  especialistas de mercado, sabem que, de acordo com o Código Penal Brasileiro,  essas irregularidades configuram a prática de estelionato, um crime econômico  definido como “obter para si vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou  mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio  fraudulento.” Chama a atenção ainda o fato de que muitos segurados acham  que não estão fazendo nada de errado, porque já pagaram muito dinheiro às  seguradoras sem nunca terem batido o carro. “Chegou a hora de eu reaver esse  dinheiro”, pensa o fraudador. Para prejuízo da seguradora e, pior, de toda a  sociedade. O próprio autor da fraude acaba pagando mais em seus próximos  contratos de seguros, por conta de um problema que ele mesmo ajudou a  criar. A motivação do fraudador Uma reflexão sobre as  razões que levam à fraude. Essa é a proposta da advogada Angélica Carlini,  especializada no mercado de seguros. Para ela, além do trabalho de prevenção, é  indispensável que o mercado trabalhe para identificar as motivações que levam um  cidadão que trabalha e geralmente cumpre com suas obrigações a cometer uma  fraude. Além do dinheiro, há outra motivação que leve à fraude?   De forma geral, o fraudador nem acha que está cometendo um crime,  porque não percebe que a fraude tenha vítimas. A sensação dessa pessoa é de que  as seguradoras são muito ricas e que subtraem o dinheiro do segurado. A própria  relação tumultuada entre seguradoras e segurados contribui para essa  impressão. Falta informação, então? Sim, o problema é que  o segurado conhece pouco o seguro e o entende como um mal necessário. Ele não  quer contratar, acha que é forçado a isso e que as seguradoras se aproveitam das  circunstâncias de risco para constrangê-lo a pagar. Como resolver  isso? Tenho uma tese de que há meios de esclarecer a população sobre  a finalidade do seguro, e mais: que é possível transformar consumidores comuns  em apaixonados pelo seguro. Hoje, o contrato de seguro fala “segurês”, de modo  que o consumidor precisa comprar algo que ele não entende. Um exemplo: o que ele  paga é chamado de prêmio. Para mim, prêmio é uma coisa que a gente ganha, não  algo pelo qual a gente precise pagar. O caminho passa pelo diálogo? Com certeza. Há mercados que têm dialogado com seus consumidores e  se deram muito bem. O segmento alimentício é um caso desses. Quando as empresas  se viram diante da necessidade de informar o consumidor sobre os componentes de  cada alimento, o diálogo resultante disso acabou criando um novo produto, que é  o alimento funcional. As pessoas ficaram tão informadas sobre o funcionamento  dos alimentos que isso estimulou a procura pelos que fazem bem para o organismo  ou vão ao encontro de alguma necessidade específica. Fonte: Cesvi Brasil | 
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Seguradoras: combate à fraude
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