segunda-feira, 29 de julho de 2013

Camisetas da hora - De morador de rua a empresário

Por Fabiana Pires

“As pessoas não falham. Elas desistem”. Marcelo Ostia, de 32 anos, só se deu conta da reviravolta que havia acontecido em sua vida quando leu esta frase em uma camiseta doada por voluntários a moradores de rua do centro de São Paulo. Ele estava dormindo em uma vaga de estacionamento quando um motorista de caminhão lhe entregou a peça de roupa. “Vi que a minha situação era crítica, estava sendo confundido com um mendigo”. Essa percepção foi o baque que ele precisava para tentar mudar de vida. Hoje, o fundador da Camisetas da Hora, empresa com 835 franqueados e um faturamento de R$ 120 mil por mês, repete a frase da camiseta que ganhou como se fosse um mantra. “A gente erra para adquirir experiência”.


As grandes mudanças na vida do empresário começaram quando ele foi demitido da multinacional em que havia trabalhado dos 11 aos 19 anos. A companhia estava saindo de Itu, no Interior de São Paulo, para o Rio de Janeiro e precisou dispensar todos os funcionários. “Entrei como guardinha mirim e saí como funcionário da área de planejamento. Havia crescido lá. Fiquei muito frustrado por ter saído”.
Sem emprego, Ostia decidiu montar uma copiadora rápida na garagem da casa dos pais, sua primeira experiência como empreendedor. Um de seus clientes era o dono de uma camisetaria que comentou com ele que precisava de alguém para fazer a arte das estampas. Vendo uma oportunidade, ele ofereceu seus serviços – mesmo sem saber nada sobre arte gráfica. “Instalei o CorelDRAW no computador e fiquei fuçando, aprendendo sozinho durante uns três meses. Foi um pelejo bem grande, mas consegui”.
Quando os negócios começavam a ir bem, a empresa do novo cliente foi à falência e o dono veio perguntar a Ostia se ele não gostaria de comprar os equipamentos de estampa. Foi a segunda grande reviravolta na vida do empreendedor, que também não sabia nada sobre estampar camisetas, mas aceitou fechar o negócio mesmo assim. A copiadora virou, então, uma gráfica rápida: fazia banners, faixas, cartazes e também estampava camisetas.
Depois de algum tempo, no entanto, a nova empresa faliu. Ostia explica que foi por uma série de problemas, grande parte deles gerados pela falta de experiência em administração dos donos (na época, um amigo de infância se tornara sócio na empreitada). Mas o que piorou a situação da gráfica foi o calote de um fornecedor de São Paulo, que havia recebido por alguns materiais e desaparecido.
Sem nenhum receio, os sócios saíram do interior rumo à capital paulista para fazer a cobrança. Sem nenhum contato, chegaram à cidade e logo perceberam que nunca encontrariam a empresa, nem o caloteiro. O que iriam fazer agora?
Depois de andar sem destino durante algumas horas, eles entraram numa rua que deu a resposta. Era a rua Bresser, no Brás, famoso ponto de comércio de roupas em São Paulo. “Eu olhei ao redor e vi que todo mundo vendia camisetas, mas ninguém vendia camisetas estampadas”. Daí saíram os dois, de loja em loja, oferecendo seus serviços. Quem topou a parceria foi um turco, dono de um estabelecimento grande. O acordo era que as máquinas ficassem na porta do local, para que os clientes, pudessem customizar as roupas compradas.
Os sócios vieram para São Paulo contando com a ajuda do novo parceiro para encontrar um lugar para ficar. Mas isso não aconteceu. A resposta atravessada às expectativas dos empreendedores, Ostia lembra até hoje: “Ele disse: ‘Não sou pai de vocês. Da porta pra dentro vocês trabalham, da porta para fora, vocês se virem”’. Com R$ 50 no bolso, eles decidiram alugar uma vaga de estacionamento para dormir e guardar as máquinas de estampa. “Só conseguíamos pagar isso”. Era no próprio estabelecimento que eles tomavam banho e se trocavam. Até que aconteceu o episódio da camiseta doada por voluntários.
“Percebi que precisava mudar. Além disso, a minha namorada estava grávida”. Ostia decidiu, então, começar a produzir camisetas para vender pela internet - surgia o embrião da Camisetas da Hora. No começo, ele anunciava os produtos no Mercado Livre e colocava no correio para fazer as entregas – passava os dias circulando entre a rua Bresser e uma lan house próxima ao estacionamento. Em 2004, quando conseguiu juntar R$ 300, criou uma página do negócio na internet e voltou para Itu.
De lá para cá, a Camisetas da Hora cresceu a passos largos. Hoje, a marca vende até 8 mil camisetas por mês, por meio de suas 834 franquias online, um quiosque em Itapevi (SP) e um furgão que viaja o Brasil todo vendendo os produtos em eventos. Daqui a 60 dias, será inaugurada a primeira loja física da rede, em Araraquara.
Para os próximos anos, os planos de Ostia e sua esposa, Andreia Oliveira, a nova sócia, são ambiciosos. Eles querem lançar uma rede de displays em hotéis, para alcançar os turistas que devem vir ao país para a Copa do Mundo – mais ou menos como a Havaianas faz. “É algo novo, que no meu segmento, ninguém explora”, diz. E completa: “Isso é empreendedorismo. O empreendedor consegue ver vantagens em qualquer situação, consegue criar oportunidades onde as outras pessoas só veem problemas”.

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