sábado, 20 de abril de 2013

O futuro é melhor do que você pensa?


Por Vanessa Jungerfeld
É uma proposta, no mínimo, ousada. Fundador e reitor da Singularity University, instituição no Vale do Silício mantida em parceria com Nasa, Google, Autodesk e Nokia, e presidente da X Prize Foundation (instituição que incentiva inovações), Peter Diamandis parece ter encontrado soluções para alguns dos grandes problemas da humanidade, como universalização do acesso à saúde e à educação, à energia, à água potável e para uma nova forma de produção de alimentos a baixo custo.
Baseado em inovações que podem superar algumas das mais complexas dificuldades do mundo, Diamandis aponta como a tecnologia pode ser usada como catalisadora das transformações da sociedade e capaz de reduzir o fosso entre ricos e pobres.
Para muitos, as soluções propostas por Diamandis podem parecer apenas um exercício de futurologia. No entanto, o autor do recém-lançado "Abundância - O Futuro é Melhor do que Você Imagina" (HSM Editora, 423 págs.), escrito em parceria com o jornalista Steven Kotler, tem defendido que a sociedade, na verdade, que é cética, um efeito colateral das notícias ruins - "que vendem jornais" - nas quais as pessoas acabam acreditando. Ele nega que seu livro tenha um tom "otimista" demais. Prefere o uso do termo "realista".
O acesso à água de qualidade, um dos maiores problemas ambientais contemporâneos, é tema de inovações inspiradoras, na visão de Diamandis. Um invento feito pelo empresário multimilionário Dean Kamen, que teria criado a tecnologia Slingshot (Estilingue), com o poder de transformar água poluída ou salgada, e até mesmo esgoto, em água potável de alta qualidade está em sua lista de boas novas. Também destaca a invenção desenvolvida pelo inglês Michael Pritchard chamada de Lifesaver. Comovido com o desastre causado pelo furacão Katrina em Nova Orleans, que afetou o abastecimento de água da população local, esse engenheiro criou uma garrafa com um filtro que, com uma membrana de 15 nanômetros de largura, consegue capturar bactérias e vírus transmitidos pela água, fornecendo água potável ao custo de meio centavo de dólar por dia para operar.
Para aumentar o acesso à energia, além de propostas para o avanço da energia solar, Diamandis fala em novos projetos de energia nuclear, usinas com um "novo design" que não guardariam relação com aquelas que provocaram o desastre de Fukushima: "O velho estilo de energia nuclear era terrível, mas os novos são diferentes. E, se você olhar para 2011, o custo de energia solar foi mais barato do que o do diesel na Índia. Há algo acontecendo e isso é democrático, porque é uma energia, literalmente, de graça."
Na saúde, mudanças importantes guardariam relação com o barateamento dos diagnósticos, conforme Diamandis. Ainda em desenvolvimento, um equipamento médico portátil, de baixo custo, com um pequeno computador acoplado, permitiria às pessoas se diagnosticarem. Esse dispositivo teria um GPS, que mostraria o local geográfico onde a pessoa com a doença está e poderia alertar sobre uma possível pandemia, por exemplo.
E para prover alimentos para a humanidade? Uma experiência de plantio no alto dos prédios de Manhattan, projeto comandado pelo ex-professor da Universidade de Columbia Dickson Despommier, é visto como alternativa possível. Trata-se de uma plantação vertical de alimentos a partir da hidroponia, com menos uso de pesticidas e de água, podendo alimentar parte da população de Nova York de forma mais barata que a agricultura convencional.
Diamandis chega à ousadia de definir uma data em que "o mundo vai ser capaz de produzir e dar conta de todas as necessidades da humanidade". O tempo, estimado em duas décadas - algo que qualquer economista quebraria a cabeça para calcular e talvez preferisse não afirmar dadas as inúmeras variáveis não só econômicas em questão -, deriva de uma projeção da taxa em que a tecnologia está crescendo. "Estamos reduzindo a pobreza no mundo e à frente das Metas do Milênio. Então, isso vai ocorrer de duas a três décadas. Mas não me refiro a criar uma vida de luxo para todos, mas de suprir as necessidades básicas, como acesso à água, energia, educação e saúde", ressalta.
Aos mais pessimistas o autor adverte que tem visto "extraordinários progressos tecnológicos" e "muitas coisas ditas impossíveis se tornaram possíveis". A crença nesse "futuro melhor do que se imagina" tem a ver com a proximidade com pessoas da indústria e da tecnologia, junto às quais "teve oportunidade de ver a informação verdadeira, o dado real". "Muitas pessoas são constantemente afetadas pela mídia negativa e não notam as mudanças que estão ocorrendo", defende.
A outra mensagem que Diamandis quer passar é algo do tipo "pare de reclamar das coisas e faça algo". E não espere por ninguém, "faça você mesmo"!
"Antes, para fazer algo era necessário ser governo, ser uma grande companhia. Mas hoje indivíduos possuem um poder tremendo porque têm o poder de comunicação, acesso a qualquer tipo de informação que desejam e aos mais poderosos computadores. Hoje, não há mais desculpas. As pessoas têm as ferramentas", afirma.
Formado em genética molecular e engenharia espacial pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e em medicina pela Harvard, Diamandis tem reservado à tecnologia até o (polêmico) poder de reduzir as desigualdades e de dar liberdade às pessoas. "A disseminação dos celulares está possibilitando as microfinanças, e as microfinanças estão possibilitando a disseminação dos celulares, e ambos estão criando mais oportunidades intraclasses e mais prosperidade para todos os envolvidos", escreve.
Dentro de alguns poucos anos, a propósito, o celular vai ser a ferramenta para universalizar o acesso à educação e à saúde, na sua opinião. "Ele vai ser como seu professor, por permitir que você aprenda o que quiser, e também o seu médico, porque providenciará cuidados de saúde. E é claro que o preço dos celulares vai continuar caindo. Hoje, aliás, se uma pessoa na favela tem um smartphone, ela tem uma melhor ferramenta de comunicação do que o presidente dos Estados Unidos ou o presidente do Brasil há 15 anos. Essa pessoa tem GPS, tem câmeras de vídeo, biblioteca de músicas, jogos e várias outras coisas em que gastávamos muito dinheiro para ter 30 anos atrás".
Para Diamandis, é preciso que as pessoas lancem um olhar para os fatos que já estão confirmados e esqueçam a ideia de um fundo do poço grande demais de onde não seria possível sair porque esse fosso seria "papo furado". Será?



"Abundância - O Futuro é Melhor do Que Você Imagina"

Peter Diamandis e Steven Kotler. HSM Editora, 423 págs., R$ 69,00

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