sexta-feira, 8 de março de 2013

Brasileiro vê pobreza como virtude, diz autor de 'As 25 Leis Bíblicas do Sucesso'


Por Morris Kachani


Um bom cristão deveria necessariamente ser um bom funcionário? Em que medida seu Deus atuaria no impiedoso mundo dos negócios?

Dentro do pródigo território da literatura de autoajuda empresarial, desponta um novo candidato a best-seller, que desde seu lançamento há três meses ocupa a lista dos mais vendidos.

Rigorosamente, "As 25 Leis Bíblicas do Sucesso", de William Douglas e Rubens Teixeira, lança mão de uma fórmula já consolidada no gênero. A dobradinha religião e carreira serviu como esteio para livros bem-sucedidos comercialmente como "O Monge e o Executivo" e "O Monge que Vendeu Sua Ferrari".

Uma visita a um mosteiro beneditino ou às montanhas do Himalaia guiaram essas obras. Em um país que vive a era do pleno emprego e contabiliza 165 milhões de cristãos, a opção de Douglas e Teixeira pelo Evangelho não poderia ser mais adequada.

Douglas é da Igreja Batista, e Teixeira, da Assembleia de Deus. Aqui, os sete pecados capitais ganham um novo significado: a gula se transforma em pressa, a luxúria em falta de prazer no trabalho, a ira em ira contra a riqueza, a soberba em orgulho, a inveja em cobiça (os pecados da preguiça e da avareza continuam os mesmos).

A partir de uma divertida formulação --"você se contrataria para ser seu empregado?"--, os autores desenvolvem um receituário cheio de lugares comuns, a saber: devemos fazer o bem a todos, até mesmo a quem nos faz mal; quem cumpre as leis, tem menos problemas; é preciso paciência para ganhar dinheiro; mais vale um bom nome do que muitas riquezas; entre outros.

Foram pinçadas 201 citações bíblicas que corroboram esses clássicos da moral cristã que ouvimos desde a infância. Não encerram novidades e não são necessariamente consensuais, mas, afinal, mal não há em revisitá-los. Imagine se os setores de atendimento das concessionárias de telefonia decidissem segui-los à risca...

De Eike Batista a Mahatma Gandhi, foram também acrescidas as citações de um improvável time de lideranças. "Tentamos tornar o livro o mais laico possível, para que inclusive os ateus se interessassem", diz Douglas.

Os conceitos de que o trabalho é castigo --fruto da punição divina imposta a Adão-- e de que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus (fala atribuída a Jesus) seriam produto de interpretações enviesadas da Bíblia, defendem os autores.

"Adão já trabalhava cuidando do jardim de Éden. E a frase de Jesus foi retirada de um contexto", diz Douglas.

Para ele, "há no inconsciente coletivo do brasileiro ideias erradas que criam ressentimento contra os ricos e complexo de culpa em quem consegue chegar lá".

A matriz desse preconceito, segundo ele, estaria "no pessoal que fica vendendo lotes no céu". "O problema está em admirar a pobreza como se fosse uma virtude, atribuindo a ela um conteúdo filosófico que não tem", acrescenta. Seria esse o pecado capital da ira contra a riqueza, em sua concepção.

Não espere especulações analíticas ou mais aprofundadas sobre a ética do trabalho na religião. Não há sequer menção a obras clássicas como "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", de Max Weber.

Mas dentro do gênero da autoajuda, o livro tem tudo para continuar no topo. Douglas, que já ultrapassou 180 mil exemplares com seu "Como Passar em Provas e Concursos", sabe como vender seu peixe: "É impressionante como os princípios mais modernos do marketing estão na Bíblia", afirma.

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