quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Motivação vale mais que inspiração


Por Álvaro Oppermann

O verso livre está para o rap e o hip hop como o improviso está para o jazz. Fascinado pelo universo criativo da música negra americana, o neurocientista e pesquisador chinês Siyuan Liu, residente nos Estados Unidos, convocou músicos dos dois estilos para sessões na sala de ressonância magnética do Instituto Nacional de Saúde, onde trabalha. Queria verificar se há diferença na atividade cerebral entre uma apresentação improvisada e uma ensaiada. Ao coletar os dados das imagens cerebrais dos artistas durante as sessões, Liu concluiu que sim, escreveu no artigo Neural Correlates of Lyrical Improvisation ("Correlatos neurais na improvisação lírica"), na revista Scientific Reports.

Quando o artista exercita o verso livre, ocorre uma marcada ativação do córtex medial pré-frontal. E também um decréscimo de atividade do córtex lateral. Traduzindo: a área medial está relacionada à motivação e à rápida organização de dados. Já a região lateral - chamada por Liu de "filtro interno" do cérebro - é a responsável pela atenção aos detalhes e pela avaliação crítica. Quando refreamos a língua para não dizer algo inconveniente na reunião ou no coquetel da empresa, é a ela que devemos agradecer.
"Esta área lateral do córtex é o nosso ‘centro de controle executivo’", diz. Nas sessões de improviso, o "filtro interno" dos artistas é temporariamente desligado. Na improvisação, a atividade cerebral toma um atalho, driblando o córtex lateral. O cérebro faz um "desvio", concentrando suas forças na parte medial. "Este processo do cérebro é o equivalente moderno da invocação às musas dos poetas da Antiguidade." Liu ressalta que a "motivação" é mais decisiva na criação improvisada do que a "inspiração". Mais importante do que estar inspirado é estar motivado. Ah, e claro, criação combina com desinibição. "Quanto mais você racionaliza, menos cria."
Fonte: Época Negócios

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