domingo, 11 de setembro de 2011

Na estante do gestor: novidades literárias da semana

Um overview sobre os principais lançamentos e a resenha de um livro em destaque

CRÍTICA HISTÓRIA

Livro brasileiro narra, com humor, história da economia

Autor traça paralelos, da Grécia antiga à crise de 2008, com realidade do país

por PATRÍCIA CAMPOS MELLO

Nos Estados Unidos, existe um fluxo contínuo de livros sobre os chamados "current affairs", ou "assuntos atuais" -volumes que analisam acontecimentos mais ou menos recentes, com análises muitas vezes originais.

No Brasil, temos um deserto de livros sobre assuntos atuais. Raros são os volumes analisando com profundidade recentes reviravoltas políticas ou econômicas.

O que existe, às pencas, são traduções mal-ajambradas de livros gringos, sem preocupação com contextualização ou falsos cognatos.

E é aí que entra "Crash - Uma breve história da economia, da Grécia Antiga ao Século XXI", de Alexandre Versignassi, da editora Leya.

O livro de Versignassi conta a história da economia mundial até o famigerado crash de 2008, em bom português, traçando paralelos com a realidade brasileira e com uma boa dose de humor.

É um alívio ler um livro sobre economia bem escrito, não uma tradução canhestra.

Trata-se de uma história da econômica mundial, contada de forma bastante informal e fazendo paralelos com acontecimentos atuais.

O livro começa com a clássica descrição da bolha das tulipas na Holanda no século XVII para explicar a bolha de 2008. Mas aí encadeia comparações que aproximam o tema do leitor brasileiro, do tipo: as ações da Vale subiram 200 % em 3 anos, o mesmo que a tulipa mais valiosa da Holanda no século XVII.

É engenhoso como o autor trafega entre história mundial e realidade econômica brasileira e global, comparando tulipas e ações de Petrobras e Vale , em que muita gente investiu com o dinheiro do fundo de garantia, e daí extrapolar para a Enron, um dos casos mais espetaculares de fraude e falência.

Em todo o texto, o autor tem tiradas divertidas, tais como "dinheiro é um mecanismo engenhoso: permite que uma manicure compre seis pãezinhos sem ter que fazer as unhas do padeiro".
Mas ele às vezes exagera no coloquialismo: "vai minerar uma montanha de cobre para ver o que é bom".

Nos trechos sobre inflação e tabelamento, Versignassi descreve a história da hiperinflação, desde a Roma antiga até a república de Weimar e os dias de hoje.

Mas, ao contrário de livros gringos, ele aproveita para se deter no caso brasileiro, em que a taxa de inflação foi de pelo menos dois dígitos em todos os anos entre 1953 e 1995, e explica como a conta movimento funcionava para alimentar a inflação.

Um pouco depois compara o tabelamento do Sarney em 1986 com o do imperador romano Diocleciano, 300 anos depois de Cristo.

Ao final do livro, quando chega aos "assuntos atuais", ele consegue explicar o crash de 2008 de forma didática. Um assunto complexo como securitização de recebíveis, no cerne da crise, é destrinchado habilmente.

Para tornar mais clara para o leitor a euforia dos americanos, que aproveitavam a aparente alta inesgotável do mercado imobiliário para usar suas casas como caixa eletrônico, até os Simpsons entram na parada. "Homer refinanciou a casa dele para bancar uma festa (12º episódio da 20ª temporada)."

CRASH - UMA BREVE HISTÓRIA DA ECONOMIA
AUTOR Alexandre Versignassi
EDITORA Leya Brasil
PREÇO R$ 39,90 (320 págs.)

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LANÇAMENTOS

NACIONAIS

TEORIA

A Ética É Possível num Mundo de Consumidores?
Zygmunt Bauman
EDITORA Jorge Zahar
QUANTO R$ 44 (276 págs.)
TRADUÇÃO Alexandre Werneck
São seis conferências dadas em 2008, em Viena, pelo pop sociólogo polonês -que já vendeu 250 mil livros no Brasil. O tema central é a ética na modernidade líquida (categoria criada por ele). Aborda temas como migração e evoca nomes como H. Arendt e J. Derrida.

COGNIÇÃO

Pense Duas Vezes - Como evitar as armadilhas da intuição
Michael J. Mauboussin
EDITORA Best Business
QUANTO R$ 39,90 (209 págs.)
TRADUÇÃO Adriana C. Rieche
O professor da Columbia diz que, quando se enfrenta situações complexas, o cérebro costuma buscar soluções simplificadas que acabam por obscurecer outros enfoques. O livro aborda esses esquemas padronizados, ou intuição, e formas de driblar 'armadilhas mentais'.

ECONOMIA

Política Macroeconômica: A experiência brasileira contemporânea
Dionisio D. Carneiro e Thomas Wu
EDITORA LCT
QUANTO R$ 49 (236 págs.)
Os autores tentam modelar a economia brasileira das últimas décadas, analisando as principais medidas adotadas (como a criação da flutuação cambial e do regime de metas para a inflação). O livro é publicado após a morte de Carneiro.

AUTOAJUDA

A Vida É o Que Você Faz Dela
Peter Buffett
EDITORA Best Seller
QUANTO R$ 29,90 (268 págs.)
TRADUÇÃO Fátima Santos
Em tom de autoajuda, o filho do megainvestidor Warren Buffett compartilha suas experiências em driblar o conforto de uma "vida repleta de privilégios" e "construir seu próprio caminho". "Seja quem forem seus pais, você ainda tem a sua própria vida para tentar entender", escreve o músico.

TRABALHO

Trabalho e Desgaste Mental: o direito de ser dono de si mesmo
Edith Seligmann-Silva
EDITORA Cortez
QUANTO R$ 59 (624 págs.)
A psiquiatra e professora da FGV debate a saúde mental e as relações de trabalho, detalhando alguns transtornos, como quadros depressivos, estresse pós-traumático, dependência de álcool e psicotrópicos e síndrome do esgotamento profissional ("burnout").

CURSOS

Educação a Distância: O estado da arte
Fredric M. Litto e Marcos Formiga (org.)
EDITORA Pearson
QUANTO R$ 99,00 (456 págs.)
A obra, composta por artigos de 50 autores, aborda temas como as dificuldades políticas e culturais enfrentadas para se iniciar um programa de educação a distância, o uso do programa no sistema prisional e a superação de barreiras no ensino na região amazônica.


INTERNACIONAIS

GESTÃO

Breaking the Fear Barrier: How fear destroys companies from the inside out and what to do about it
Tom Rieger
EDITORA Gallup Press
QUANTO U$ 24,95 (160 págs.)
O autor analisa a "cultura do medo" nas empresas, que é baseada em três níveis: paroquialismo (limitação de pensamento), territorialismo (comum nas pequenas gerências) e "construção de impérios" (manutenção de controle pela chefia).

TEORIA

The Darwin Economy: Liberty, Competition, and the Common Good
Robert H. Frank
EDITORA Princeton U. Press
QUANTO US$ 17,25 (256 págs.)
O colunista do "New York Times" pergunta: quem foi o melhor economista de todos os tempos, A. Smith ou Darwin? O autor concorda com este último, de que os interesses do indivíduo e os do grupo costumam divergir muito. A solução seriam impostos e fiscalização.

por NATÁLIA PAIVA

Fonte: Folha de São Paulo

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