domingo, 21 de agosto de 2011

Na estante do gestor: novidades literárias da semana

Um overview sobre os principais lançamentos e a resenha de um livro em destaque

CRÍTICA TEORIA

Hirsch mostra construção das crises no capitalismo

Por ELEONORA DE LUCENA

"As crises são o veículo com o qual o capitalismo se mantém, apesar de suas contradições, no decorrer do tempo. Para a sociedade capitalista, vale precisamente a ideia de que tudo deve modificar-se para que o velho continue."

Com esse pano de fundo -que lembra as palavras do príncipe de Falconeri, personagem do romance "O Leopardo", de Tomasi di Lampedusa-, Joachim Hirsch constrói "A Teoria Materialista do Estado".
No livro, o professor emérito de ciência política da Universidade Johann Wolfgang Goethe de Frankfurt (Alemanha) trata das metamorfoses do capitalismo, focando o entrelaçamento entre Estado e mercado, concebidos como uma unidade.

Desconstruindo visões que apontam oposição entre ambos, Hirsch, 73, afirma: "O Estado enquanto aparelho de força possibilita a existência do mercado, por meio da garantia da propriedade privada e das relações jurídicas apoiadas nela, e deve permanentemente intervir no processo mercantil para mantê-lo em funcionamento".

Baseado nos conceitos do marxismo, o autor traça a trajetória do capitalismo, enfatizando as diferenças entre o período de expansão no século 20 até a década de 1970, classificado como "fordismo", e a ascensão do neoliberalismo, o "pós-fordismo".

Atacando concepções difundidas da "globalização", Hirsch analisa esse regime de acumulação como uma "nova forma de internacionalização da produção, que se tornou possível por meio da liberalização dos mercados de mercadorias, financeiro e de capital, bem como pelas novas tecnologias de comunicação e transporte".

ESTADO E CAPITAL

Para o autor, há "uma nova divisão internacional do trabalho, que suplanta a antiga, fundada na exportação de capital e no comércio de mercadorias".

Ele argumenta que, apesar do avanço das multinacionais, os Estados continuam com força. As empresas precisam deles para impor regras, como as sobre o mercado de trabalho, salário, emprego de imigrantes etc.

O professor enfatiza o aumento das desigualdades econômicas e sociais nas esferas nacionais e internacionais e declara: "Esse desenvolvimento desigual é fundamental para o processo de acumulação global".

Na sua concepção, existe hoje um "hiperimperialismo", um sistema instável, "que pode desmoronar com uma crise econômica de maior envergadura".

O livro, que merecia uma edição mais cuidadosa, quase não trata da China. O autor parece esquecer a importância crescente do país na economia mundial. Sua análise sobre o papel do Estado poderia ganhar outro relevo se abordasse o modelo chinês. É uma lacuna.

Um dos pontos fortes do trabalho de Hirsch é o seu diagnóstico cáustico sobre o quadro político atual.
Ele diz que "o futuro da democracia liberal também está em questão". "A chamada globalização é um ataque politicamente impulsionado contra as conquistas democráticas obtidas ao longo dos séculos 19 e 20", afirma.

Apontando um rompimento entre capitalismo e democracia, ele mostra a corrosão de partidos e de instituições. Identifica um "chauvinismo do bem-estar" e alerta para os riscos de ideologias de extrema direita. Impossível não lembrar os ataques de Oslo.

Hirsch descreve como "os processos mercantis penetram em todas as áreas da vida". O pensamento dominante tira indivíduos de seu contexto social e eles viram "empresários de si mesmos", preocupados com sua emancipação individual.

CRISE E CONFLITOS

O autor chega próximo de prever o acirramento da crise financeira das últimas semanas e os conflitos sociais que estouraram nos últimos meses na Europa e no Oriente Médio.

Entende que a crise "provoca uma aceleração do processo de monopolização e o aumento do entrelaçamento entre capital e Estado".

Para Hirsch, não há uma alternativa visível. Advogando uma "completa reconfiguração das relações entre o público e o privado", quer "uma mobilização social fora e independente do Estado, do parlamente e dos partidos". São ideias radicais.

Um embrião dessa obra foi publicado no Brasil em 1998 na edição 19 da revista "Ensaios FEE", da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul.

O texto "Globalização e Mudança Social: O Conceito da Teoria Materialista do Estado e a Teoria da Regulação" teve tradução de Moema Kray, com revisão da então técnica Dilma Vana Rousseff.

TEORIA MATERIALISTA DO ESTADO
AUTOR Joachim Hirsch
EDITORA Revan
QUANTO R$ 48 (328 págs.)
AVALIAÇÃO Bom

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LANÇAMENTOS

NACIONAIS

TEORIA
Os Desafios do Futuro da Economia
Michael Spence
EDITORA Elsevier
QUANTO R$ 65 (272 págs.)

A tese do autor, um dos ganhadores do Nobel de Economia de 2001, é que, pela primeira vez desde a Revolução Industrial, as enormes assimetrias entre os países avançados e as economias em desenvolvimento estão em convergência, não em afastamento. O livro faz um panorama da economia global desde o pós-guerra.

CULTURA
Economia da Cultura
Luisa Angelete Ferreira e Manoel Marcondes Machado Neto
EDITORA Ciência Moderna
QUANTO R$ 63,20 (416 págs.)

O livro, que será lançado na quarta-feira, no Rio, faz um panorama histórico das políticas culturais (desde a constituição da República) e traz uma espécie de inventário dos programas e das instituições que promovem a cultura no país. Baseia-se principalmente em dados do IBGE e em levantamentos de outros órgãos estatais.

GESTÃO
Estratégia Boa, Estratégia Ruim
Richard P. Rumelt
EDITORA Elsevier
QUANTO R$ 69,90

Por meio do exemplo de várias corporações (como Apple, GM e Walmart), o livro apresenta de que forma diversos campos do conhecimento -como economia, finanças, tecnologia, história-, aliados a características intrínsecas do caráter humano, moldam as estratégias empresarias. Afirma que a maioria dos grupos não as têm.

TURISMO
Turismo e Meio Ambiente
Reinaldo Miranda de Sá Teles (org.)
EDITORA Elsevier
QUANTO R$ 49,90 (216 págs.)

Primeiro livro da Coleção Eduardo Sanovicz (professor da USP e ex-presidente da Embratur) só com autores brasileiros. A coleção aborda temas relacionadas a turismo e negócios. Nesta edição, os artigos, assinado por acadêmicos com experiência na área, trazem conceitos e guias práticos relacionados ao ecoturismo.

EMPRESAS
Startup Brasil
Pedro Mello e Marina Vidigal
EDITORA Editora Agir
QUANTO R$ 39,90

Livro narra a história de dez empreendedores brasileiros com negócios bem-sucedidos em várias áreas: vai da infância à criação e ao sucesso de cada companhia. Alguns dos entrevistados são os empresários Miguel Krigsner (O Boticário), Romero Rodrigues (BuscaPé), Maurício de Sousa (Turma da Mônica) e Alexandre Tadeu da Costa (Cacau Show).

DIREITO
Acordo de Acionistas - Homenagem a Celso Barbi Filho
Modesto Carvalhosa
EDITORA Saraiva
QUANTO R$ 110 (420 págs.)

O livro é um ensaio sobre a evolução do direito societário brasileiro, assunto sobre o qual o autor já havia escrito em outra publicação, livro clássico que leva o mesmo título e que foi editado nos anos 1980. No livro novo, Carvalhosa homenageia o jurista Celso Barbi Filho, morto em 2001, aos 35 anos.


INTERNACIONAIS

IMPERIALISMO
A Contest for Supremacy: China, America, and the Struggle for Mastery in Asia
Aaron L. Friedberg
EDITORA W. W. Norton & Company
QUANTO US$ 27,95 (360 págs.)

O professor de política e relações internacionais da Universidade Princeton discorre sobre o histórico e o atual momento das relações sino-americanas na busca pela supremacia na Ásia. A tese do livro é a de que a China busca ganhar terreno sem confronto direto.

CULTURA
A Handbook of Cultural Economics
Ruth Towse (org.)
EDITORA Edward Elgar Pub
QUANTO US$ 225 (456 págs.)

O livro congrega dezenas de artigos de especialistas em campos culturais específicos: da antropologia e dos leilões à indústria das celebridades e às artes visuais. Alguns dos temas desenvolvidos são o mercado de trabalho dos artistas, o comércio internacional de arte, a economia da mídia e os indicadores culturais.

Por NATÁLIA PAIVA

FONTE: Folha de São Paulo

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