domingo, 7 de agosto de 2011

Na estante do gestor: novidades literárias da semana

Um overview sobre os principais lançamentos e a resenha de dois livros em destaque
=> CRÍTICA ECONOMIA

Livro defende rigor científico em programas antipobreza

Comparar resultado obtido com o de um grupo de controle evita desperdícios

OSCAR PILAGALLO

"Mais do que Boas Intenções" argumenta que não basta o impulso altruísta para que ações destinadas a combater a pobreza deem resultado satisfatório -é preciso também ser eficiente.

Sem uma avaliação rigorosa dos programas sociais, afirmam Dean Karlan e Jacob Appel, é grande a probabilidade de desperdício de recursos doados pela sociedade.

Os autores escrevem com conhecimento de causa. Karlan, da Universidade Yale, é o fundador da IPA (Innovations for Poverty Action), organização focada em programas antipobreza. E Appel rodou continentes fazendo pesquisa nas comunidades mais carentes do mundo.

O livro defende que se avaliem programas sociais como se faz no meio científico, comparando o resultado no grupo beneficiado com o de um grupo de controle, aleatório. O método é conhecido pela sigla em inglês RCT (Randomized Control Trials).

A obra se debruça sobre programas voltados a populações miseráveis da África, mas várias das ideias analisadas, como o microcrédito, interessam ao Brasil.

Os autores mostram, com argumentação contraintuitiva, que mesmo iniciativas elogiadas, como microcrédito, nem sempre são positivas.

Uma operação desnecessária, mesmo com juro subsidiado, pode levar a endividamento, enquanto um crédito oportuno, mesmo com juro alto, pode dar bom resultado.

O Brasil, salvo por menção no prefácio à edição brasileira, não é citado. Nesse texto, os autores elogiam o Bolsa Família, enfatizando que nos quatro anos seguintes à sua criação, em 2003, a pobreza "caiu drasticamente", de 22% para 7% da população.

Mais útil para o leitor é comparar o Bolsa Família ao Progresa, programa mexicano existente desde 1997 (hoje, Oportunidades), que serviu de parâmetro para iniciativas em vários países.

Karlan e Appel contam que, na largada, o governo decidiu avaliar, com um RCT, o programa de transferência condicional, em que o recebimento de cheques é condicionado à frequência escolar.

Tal avaliação permitiu que o programa fosse copiado e adaptado com mais eficiência. Na Colômbia, por exemplo, foram feitos dois ajustes que melhoraram o resultado.

O primeiro foi a retenção de um terço do pagamento, liberado para a matrícula do ano seguinte. O segundo foi a concessão de um bônus para quem se formasse.

Aperfeiçoar uma boa ideia passa por observar a realidade local, afirmam os autores.

Sem descartar princípios da economia tradicional, eles se valem da economia comportamental e valorizam o particular -com a eficiência que cobram dos programas.

OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A Aventura do Dinheiro" (Publifolha).

MAIS DO QUE BOAS INTENÇÕES
Dean Karlan e Jacob Appel
EDITORA Campus/Elsevier
QUANTO R$ 69,90 (264 págs.)
AVALIAÇÃO Bom

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CRÍTICA NEGÓCIOS

Jornalista narra passo a passo da compra da Anheuser-Busch pela InBev em 2008

ÁLVARO FAGUNDES

Em junho de 2008, a discussão sobre um calote do governo americano era impensável, mas o domínio dos Estados Unidos já começava a dar sinais de fadiga, e um dos seus símbolos estava sob ataque estrangeiro.

A Anheuser-Busch, a fabricante da Budweiser, recebeu naquela época uma oferta de US$ 46,3 bilhões dos belgo-brasileiros da InBev.

"Poucas companhias na Terra lembram mais os EUA, com toda a sua história e iconografia, que a Anheuser-Busch", escreve a jornalista Julie MacIntosh no livro "Dethroning the King: The Hostile Takeover of Anheuser-Busch, an American Icone [Destronando o Rei: a Aquisição Hostil da Anheuser-Busch, um Ícone Americano, em tradução literal]".

MacIntosh acompanhou as negociações de perto trabalhando para o "Financial Times" e, no livro, aborda principalmente o lado americano, como a cervejaria símbolo dos EUA parou nas mãos de estrangeiros.

E, no ponto de vista dela, não foram poucas as falhas.

Na Anheuser-Busch, ela viu uma empresa em que o homem que fez ela passar de 10% para 50% do mercado americano, August Busch 3º, transferir o comando em 2002 para seu filho, August Busch 4º, sem, no entanto, deixá-lo assumir as rédeas.

Não que o Quarto (como era conhecido) fosse o mais bem preparado: era um playboy que assumiu menos pela competência e mais pelas cinco gotas de Budweiser que os herdeiros homens recebiam, poucas horas depois do nascimento.

Com uma companhia com muitos gastos desnecessários e sem penetração no exterior -marcas deixadas por seu pai-, ele não conseguiu reverter a oferta, que no mês seguinte foi ampliada para US$ 52 bilhões.

O negócio também contou com a sorte: dois meses depois o Lehman Brothers quebrou, o crédito global secou e uma aquisição desse vulto seria impossível.

DETHRONING THE KING
Julie MacIntosh
EDITORA Wiley (408 págs.)
QUANTO US$ 15,21
AVALIAÇÃO Bom
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LANÇAMENTOS

NACIONAIS

SOCIOLOGIA
O amor nos Tempos do Capitalismo

Eva Illouz
EDITORA Jorge Zahar
QUANTO R$ 36 (188 págs.)
Analisa a mudança na relação entre as esferas econômica e afetiva ao longo do século 20, sob forte influência da psicanálise e do feminismo. A autora debate o que chama de "capitalismo afetivo": transações econômicas mais "sensíveis" e relacionamentos definidos por negociação, troca etc.

MARKETING
Redefinindo Marketing Direto Interativo na Era Digital

Stan Rapp (coord.)
EDITORA M. Brooks
QUANTO R$ 69 (248 págs.)
Reúne artigos sobre marketing direto e o impacto das novas tecnologias, que aumentam a interatividade. Um case analisado é o da Nike: parte do dinheiro da campanha "Just do it" foi para tecnologias de engajamento (ex.: sensor em tênis de corrida, controlado por iPod).

MÍDIA
Mídia Training - Como Usar a Mídia a seu Favor

Heródoto Barberiro
EDITORA Saraiva
QUANTO R$ 29,90 (160 págs.)
Segunda edição do manual, escrito pelo jornalista Heródoto Barbeiro, para orientar empresários e executivos a conceder melhores entrevistas. O autor, hoje na Record News, também explica como funciona o trabalho jornalístico e que tipo de informação interessa mais ao jornalista.

CARREIRA
Carreira: Você Está Cuidando da Sua?

Sofia Esteves, Renata Magliocca e Danilca Galdini
EDITORA Campus/Elsevier
QUANTO R$ R$ 31,90
Coescrito por Sofia Esteves, presidente de uma das maiores recrutadoras nacionais, a DMRH, o livro traz roteiro básico de orientação pessoal (como identificar competências e escolher programas de trainee, por ex.) e faz panorama atualizado do mercado de trabalho.

EXATAS
As Grandes Equações

Robert P. Crease
EDITORA Jorge Zahar
QUANTO R$ 39,90 (280 págs.)
TRADUÇÃO Alexandre Cherman
Narra a história das fórmulas matemáticas mais importantes: como, quando, por quem e em quais circunstâncias foram criadas. Além de contar como surgiram o teorema de Pitágoras e a lei do movimento de Newton, por exemplo, o autor conecta cada descoberta a invenções do cotidiano.

GESTÃO
Critérios de Excelência

EDITORA Fundação Nacional da Qualidade
QUANTO R$ 40 (102 págs.)
A publicação anual atualiza os critérios de excelência em gestão da FNQ (Fundação Nacional da Qualidade), organização privada sem fins lucrativos, elaborados por um comitê formado por consultores e especialistas na área. O objetivo da publicação é ajudar a mapear e corrigir deficiências nas empresas.

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INTERNACIONAIS

CIÊNCIAS
The Consuming Instinct

Gad Saad
EDITORA Prometheus
QUANTO US$ 25 (374 págs.)
Pelo olhar da biologia e da seleção natural, o autor afirma que decisões pouco racionais ou impulsivas dos consumidores estão ligadas às necessidades evolutivas do ser humano. Para ilustrar seus argumentos, o autor -que discute do uso de sapato alto ao consumo de pornografia- faz largo uso de referências pop, como séries de TV.

FINANÇAS
Aftershock: Protect Yourself and Profit in the Next Global Financial Meltdown

David Wiedemer, Robert A. Wiedemer, Cindy S. Spitzer
EDITORA Wiley
QUANTO US$ 16,42 (320 págs.)
O livro, em segunda edição, tem objetivo ambicioso: dar o passo a passo do que fazer para se proteger de crises. Mais de um terço é inédito, atualizado com elementos como as medidas do Fed (BC dos EUA) ante o dólar e as "bolhas" chinesas.

por NATÁLIA PAIVA
Fonte: Folha de São Paulo

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