sábado, 25 de junho de 2011

Na estante do gestor - destaques literários da semana

Resenhas dos livros "Liberdade" de Jonathan Franzen (Ficção) e "Como os mercados quebram" de John Cassidy (Não-ficção), e mais os lançamentos da semana:

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FICÇÃO: "LIBERDADE"


Nove anos após o aclamado "As Correções", autor americano lança livro que trata dos anos pós-11 de Setembro

Por Daniel Benevides (Folha de são Paulo)

Lá se vão nove anos desde o lançamento do primeiro romance de Jonathan Franzen, "As Correções", avidamente aclamado mundialmente.

O livro propunha uma volta à literatura humanista, ao mundo interno dos personagens, povoado de sentimentos universais facilmente identificáveis pelo leitor.

Ou seja, colocava-se claramente na contracorrente do pós-modernismo e seus jogos de linguagem, teia de referências e digressões enciclopédicas.

Ganhou mil prêmios -entre eles, o National Book Award-, centenas de milhares de leitores e dividiu águas, deixando a literatura contemporânea em xeque -o espírito de Tolstói, Stendhal e Mann parecia renascer para reclamar a primazia.

"Freedom" (liberdade), o aguardado sucessor, surge na mesma direção. Se, no livro de estreia, Franzen dissecava a era Clinton nos anos 1990, através dos conflitos da família Lambert, seu cenário em "Freedom" são os anos pós-11 de Setembro, com Bush filho no poder, e os disfuncionais Berglund no centro da história.

O formato da trama é o já bem conhecido triângulo. O roqueiro Richard Katz, líder cool e desencantado das bandas Traumatics e Walnut Surprise é o melhor amigo de Walter Berglund, idealista entusiasmado e careta.

Na faculdade, ambos eram apaixonados pela bela e popular Patty, que acaba escolhendo o certinho Walter, com quem terá dois filhos: Joey e Jessica.

Katz entra em crise após finalmente chegar ao sucesso e abandona a música, desestimulado pela estupidez da unanimidade e pela nova era de consumo mais que rápido, em que as canções se perdem na memória "infinita" dos iPods.

O democrata Walter, obcecado pelo tema da superpopulação, envolve-se no projeto ambíguo de um bilionário republicano cujo objetivo é preservar uma grande área verde em que vive um pássaro ameaçado de extinção, para compensar os estragos cometidos por sua empresa exploradora de carvão.

À parte o atrativo da empreitada, "combater o inimigo de dentro de suas fileiras", está também uma jovem e desejável assistente, a indiana Lalitha.

Franzen escreve com um olho no microscópio sentimental, e outro numa teleobjetiva dirigida ao contexto. Cada região íntima dos personagens parece corresponder a um pedaço da tela sóciopolítica de fundo.

Entediada, Patty flutua nas ondas do álcool e antidepressivos; o rebelde Joey sai de casa para viver com a vizinha, e acaba num inescrupuloso trabalho ligado à guerra no Iraque. Os grandes temas contemporâneos são habilmente alocados nos espaços da trama subjetiva.

Tirando poucos momentos chatos e previsíveis, tudo é descrito de maneira sensível, sem ruídos ou exageros. As cenas de sexo são naturais, num espectro que vai do constrangimento cômico à paixão violenta; o registro dos diálogos mostra bom ouvido para nuances, hesitações, intenções escondidas; a caracterização dos personagens -críveis, quase visíveis- revela seus pensamentos e desejos mais fundos.

É outro grande livro? Talvez. O curioso é que Franzen parece pouco à vontade com o barulho em torno da obra.

Tal como Katz, ficou constrangido por "Freedom" ter sido selecionado para o clube do livro da Oprah (o que diria Flaubert?). Mas o destaque no popular programa de auditório faz sentido: mesmo em toda sua complexidade e pulsão satírica, "Freedom" tem sob as páginas um (bem americano) substrato de escrúpulos, o que às vezes ameniza a acidez nas entrelinhas.

=> LIBERDADE
AUTOR Jonathan Franzen
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 46,50 / 560 págs.
AVALIAÇÃO ótimo

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NÃO-FICÇÃO: "COMO OS MERCADOS QUEBRAM"







Livro faz relação entre crise e pensamentos econômicos

Por Érica Fraga (Folha de São Paulo)

Nos últimos 40 anos o pensamento econômico se afastou da realidade e se revestiu de utopia. Autoridades abraçaram a nova ideologia e fecharam os olhos para distorções e abusos que se formavam no mercado financeiro. Isso resultou na crise global de 2007-2008.
Essa é a ideia central de "Quando os Mercados Quebram", do jornalista britânico John Cassidy, que trabalha para a prestigiosa revista "The New Yorker".

O livro explica como surgiu a defesa da tese de que um mercado livre de amarras é eficiente porque "recursos físicos e humanos são dirigidos para onde mais se precisa deles, e os preços estão vinculados a custos".

Cassidy mostra como pensadores que vieram depois do pai da ideia -Adam Smith- avançaram e aprimoraram a teoria do economista britânico.

Para ele, esse grupo de economistas dos séculos 18 e 19 era menos dogmático a respeito da eficiência do livre mercado do que fervorosos defensores mais recentes.

Segundo Cassidy, Smith e outros economistas, como o britânico John Stuart Mill, alertavam para os distúrbios no sistema financeiro e defendiam a necessidade de regulação governamental.

"A noção de que os mercados financeiros são mecanismos racionais e autorreguladores é invenção dos últimos 40 anos", afirma o autor. Essa é a essência do que ele chama economia utópica.
O autor descreve a contribuição dos economistas que apontaram falhas do livre mercado, como incertezas, informação imperfeita e comportamento de manada.

Os economistas americanos Milton Friedman e Robert Lucas são citados como expoentes do pensamento econômico utópico, que ignorou esses problemas. Cassidy mostra distorções desnudadas pela crise, cujos sinais foram ignorados.

"Quando o preço de um patrimônio qualquer sobe de 20% a 30% ao ano, ninguém que o possua ou negocie quer ouvir falar que sua riqueza súbita é ilusória", diz ele.

O grande vilão da história, para o autor, foi Alan Greenspan, que presidiu o Fed (Federal Reserve, banco central americano) entre 1987 e 2006. Cassidy descreve como Greenspan manteve uma visão cega e fervorosa em relação à eficiência dos mercados livres de regulação governamental, mesmo perante sinais claros de uma bolha.

Ben Bernanke, sucessor de Greenspan e atual presidente, seria o culpado coadjuvante já que quando assumiu o bastão, em fevereiro de 2006, "não fez esforço algum para mudar a posição não intervencionista do Fed".

Cassidy diz que Greenspan e Bernanke ignoraram a função do Fed de "retirar a tigela de ponche quando a festa engrena" definido por outro ex-presidente da casa (William McChesney Martin).

A conclusão tem certo tom de ceticismo em relação à reformulação do pensamento econômico "com base na realidade" e aos esforços para criar uma regulação que coíba problemas como os que levaram à crise.

=> COMO OS MERCADOS QUEBRAM
AUTOR John Cassidy
EDITORA Intrinseca
QUANTO R$ 39,90 (390 págs.)
AVALIAÇÃO Bom

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LANÇAMENTOS

Por Paola Carvalho (Folha de São Paulo)

#1
NACIONAIS


MERCADO FINANCEIRO
Factoring no Brasil
Luiz Lemos Leite
EDITORA Atlas
QUANTO R$ 83 (470 págs.)

A nova edição coincide com a volta do projeto de lei que dispõe sobre as operações de fomento mercantil à Câmara dos Deputados. Nesse livro, o ex-diretor do Banco Central e atual presidente da Anfac (Associação Nacional das Sociedades de Fomento Mercantil) destaca o factoring como fomento para as pequenas e médias empresas.

NEGÓCIOS
Negotiauctions
Guhan Subramanian
EDITORA Campus Elsevier
QUANTO R$ 59,90 (248 págs.)

Negoutiauctions se refere ao "obscuro terreno intermediário que se situa entre as negociações puras e os leilões puros". O autor, graduado em Harvard e um dos principais estudiosos em negociações, oferece aos leitores conselhos livres de jargões para fechar um acordo de sucesso, seja na compra de uma empresa ou na de um carro.

LIDERANÇA
Winston Churchill CEO
Alan Axelford
EDITORA Campus Elsevier
QUANTO R$ 69,90 (280 págs.)

O autor de best-sellers tenta convencer que aqueles que lideram negócios, grandes ou pequenos, podem aprender com o exemplo do primeiro-ministro do Reino Unido na Segunda Guerra. Ele extrai 25 facetas do estilo de liderança que permitem se destacar como animador de torcida, estrategista, comunicador e gestor, entre outras.

FINANÇAS
Mercado Financeiro e de Capitais
Roberto Borges Kerr
EDITORA Pearson Education
QUANTO R$ 59 (248 págs.)

O livro traz teoria, exemplos reais e exercícios que instigam o raciocínio sobre o assunto tratado em cada capítulo. Em um guia prático, Roberto Borges Kerr, professor na Universidade Mackenzie, em São Paulo, também aborda um tema ainda considerado novidade no setor: o mercado de carbono.

LEGISLAÇÃO
Contabilidade Geral
Ed Luiz Ferrari
EDITORA Impetus
QUANTO R$ 109 (979 págs.)

A 11ª edição foi revisada e atualizada pelas leis nº 11.638/2007 e nº 11.941/ 2009. Também traz a contabilização do IR e CSLL pelo lucro real anual e trimestral pelas normas do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). A teoria é seguida por exercícios resolvidos e propostos. Indicado para especialistas e estudantes.

BOLSA DE VALORES
A Florescência Tardia
José Jobson Arruda
EDITORA Edusc
QUANTO R$ 49,90 (362 págs.)

O autor, professor da Facamp (Faculdades de Campinas), escreve sobre a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e o mercado global de capitais no período entre 1989 e 2000. A obra, baseada em sua tese de doutorado, discute "problemas antigos, mas sempre novos". O prefácio é do ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira.


#2 INTERNACIONAIS

INTERNET
We First: How Brands and Consumers Use Social Media to Build a Better World
Simon Mainwaring
EDITORA Palgrave Macmillan
QUANTO US$ 17,16 (R$ 27,50 -256 págs.)

O autor -especialista em mídia social com experiência global, incluindo o mundo Nike, Toyota e Motorola- oferece uma visão da mídia social como um pilar da sustentabilidade. Apresenta planos ousados para quem precisa repensar suas estratégias.

CRISE FINANCEIRA
Reckless Endangerment: How Outsized Ambition, Greed, and Corruption Led to Economic Armageddon
Gretchen Morgenson
EDITORA Times Book
QUANTO US$ 16,50 (R$ 26,40 -352 págs.)

O autor, ganhador de um Pulitzer, revela como a crise financeira surgiu da interação tóxica entre Washington, Wall Street e credores hipotecários corruptos. Mostra como as autoridades ignoraram os sinais de alerta da "catástrofe".

FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO

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