terça-feira, 21 de junho de 2011

Setor de cargas sofre para atrair caminhoneiros

“Sem caminhão, o Brasil para”, dizia a velha frase de para-choque exposta em milhares de veículos pesados que circulam pelas rodovias brasileiras. Nos últimos tempos, isso não acontece mais. Sobra caminhão no Brasil. O que falta são caminhoneiros.

“Grandes empresas têm ficado com 100 a 150 caminhões parados por falta de condutor”, diagnostica Francisco Pelucio, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp).

Nos cálculos da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC & Logística), o setor precisa atrair 120 mil motoristas por ano. “Há um claro desinteresse pela profissão”, diz o presidente da entidade, Flávio Benatti.

Sem motoristas e com caminhões parados, cargas ficam no pátio, sob o risco de paralisar fábricas e entregas ao comércio, causando milhões em prejuízos.

Enquete da própria NTC & Logística mostrou que 43% dos executivos do setor apontaram a falta de motoristas e ajudantes como o principal fator de limitação do crescimento em 2011.

Vendas recordes de veículos

A formação de novos motoristas não acompanha o ritmo de vendas de caminhões. No ano passado, 157 mil veículos pesados foram licenciados, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Até maio de 2011, quase 70 mil veículos grandalhões receberam autorização para trafegar.

Uma pequena parcela dos novos caminhões substitui a frota antiga, calculada em 2,1 milhões de veículos, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) – a idade média da frota é de 16,5 anos. Mas a maior parte depende do ingresso de novos motoristas.

Um dos problemas é a falta de desejo dos jovens de enfrentar estradas mal conservadas, roubos de cargas, em jornadas de trabalho quase solitárias de 10 a 12 horas numa cabine, longe da família por semanas ou até meses. Sem falar, as reclamações recorrentes quanto à remuneração diante dos riscos relacionados à profissão.

“Hoje, em dia, um motorista que leva uma carga de R$ 1 milhão recebe cerca de R$ 1 mil por um frete percorrendo vários Estados. É um despropósito”, diz Ailton Gonçalves, advogado do Sindicato dos Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo (Sindicam), que defende algumas propostas no Estatuto do Motoristas, projeto de lei do Senado, que está em audiência pública.

Carga Pesada

As peripécias dos caminhoneiros Bino e Pedro, personagens do seriado de TV "Carga Pesada", parecem ter ficado para história. “Antigamente, o pai caminhoneiro levava o filho para trabalhar. Com 15 anos, ele já tinha decidido que queria ser motorista e, aos 18 anos, começava a paixão por ser caminhoneiro”, diz Pelucio, do Setcesp. “Isso não existe mais.” Outro fator é a exigência maior por capacitação dos motoristas para entender as inovações introduzidas pelas montadoras de caminhões mais sofisticados.

Ao contrário do passado, quando a força física do motorista fazia a diferença, hoje se exige dos jovens um grau maior de conhecimento – no mínimo segundo grau - para assimilar as técnicas de direção em frente a um painel cheio de botões e sistemas eletrônicos.

As empresas têm se esforçado a mitigar o problema. “Fazemos de 6 mil a 7 mil treinamentos de motoristas por ano nas várias ações voltadas aos clientes das nossas concessionárias”, diz o gerente de treinamento de pós-vendas da Mercedes-Benz, Ricardo Furuya.

Além dos já tradicionais sistemas de rastreamentos e de freios, os caminhões têm saída das fábricas com mais tecnologia embarcada, o que obriga os motoristas a conhecerem as melhores formas de dirigir o veículo e economizar combustíveis, um dos itens que bem pesando cada vez mais no bolso das transportadoras de cargas.

O caminhão mais moderno da montadora alemã, da linha Actros, lançado em 2010, traz desde sistemas de orientação de faixa de rolagem (que alerta o motorista quando o caminhão sai da via) ao controle de proximidade (que ajusta a distância regular com o veículo da frente).

Para Benatti, da NTC & Logística, a imagem do motorista de caminhão, apontado pela sociedade como um vilão das grandes metrópoles por impedir a mobilidade urbana, precisa mudar.

“Não foram os motoristas que planejaram mal as cidades ou deixaram de investir na infraestrutura brasileira”, diz Benatti. “Se a sociedade não fizer um esforço conjunto para valorizar a profissão, isso será pior para o próprio País.”

FONTE: IG

Nenhum comentário:

Postar um comentário